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Terminar relações, engatar outra, terminar novamente, engatar uma nova exacerba a paciência e ela avisa. Encontrar uma casa, se mudar, encontrar outra casa e ter que se mudar de novo incha as pernas e elas avisam. Tomar um remédio, parar, voltar a tomar, parar novamente fere o estômago e ele avisa.
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Assim é a depressão. É um vai e vem de um elástico preso a uma extremidade solto repentinamente: cada vez que se solta, a lapada é mais ardida, mais forte e mais difícil de aguentar. Daí a gente sente a dor e o tempo que leva pra dar uma aliviada é o tempo que o elástico está sendo puxado e preso em uma extremidade mais distante pra ser solto, outra vez, em nossa direção.
E o corpo todo avisa..
Avisa que está doendo, mas que as pessoas já sabem disso. Porque há diversas esticadas e solturas do elástico que a gente ocupou o tempo alheio com essa dor e as pessoas também já estão casadas de saber. Elas já estão exauridas do seu vai e volta. E já não têm mais discurso ou bálsamo pra aliviar o ardor da lapada derradeira, porque elas sabem que outras virão.
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É nessa hora que se começa a viver a depressão sozinho. A trajetória do cansaço se estica por milhas e milhas e percorrê-la deixa de ser uma opção. Isso inclui a terapia, as drogas pra dormir, os grupos de apoio, a Yoga, a saidinha com os amigos e os planos a longo prazo. Tudo perde a força. Solidão ou reclusão não é uma opção. É um doce embalado numa linda caixa que você simplesmente não resiste, abre e come.